terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Ter o “selo” da UNESCO é bom, mas… e depois?

 


Por estes dias, Portugal e Espanha viram ser integradas, pela UNESCO, na lista do Património Mundial, as Boas Práticas de Salvaguarda do Património Cultural Imaterial Galego-Português, aprovando uma candidatura apresentada pelos dois países e promovida pela ONG “Ponte…nas Ondas”. Durou esta luta 18 anos. A primeira candidatura foi apresentada em 2004. Professores, etnólogos e antropólogos galegos e portugueses nunca desistiram de pugnar pelo máximo reconhecimento, junto da UNESCO, de um património comum a ambos os lados da fronteira, resultado do processo evolutivo que partiu de uma língua e cultura comuns desde a Idade Média.

Aprovada, finalmente, esta candidatura, há que ter agora presente que, também o Governo português, fica comprometido com as “Boas Práticas” que mereceram o supremo galardão mundial. Não basta ter o “selo” UNESCO e depois ignorar o trabalho e os projetos de quem procura no terreno garantir a salvaguarda deste património cada vez mais rodeado de ameaças por todos os lados. Incorporar nos currículos escolares o conhecimento, valorização e estima pelo PCI, implementar um plano de formação de professores neste domínio, incentivar iniciativas em centros educativos e associações culturais, é o mínimo que pode requerer-se após esta aprovação pela UNESCO.

O Ministério da Cultura acaba de excluir dos apoios do Estado para os próximos quatro anos a companhia de teatro Filandorra, que é, seguramente, uma das que, no Norte interior, melhor tem consagrado e divulgado nas escolas as franjas mais expressivas do nosso Património Cultural Imaterial. Se é desta forma que o Governo português se dispõe a apoiar as “Boas Práticas”, então bem pode a UNESCO esperar sentada pelos resultados da sua decisão.

In JORNAL DE NOTÍCIAS, 13-12-2022


domingo, 20 de novembro de 2022

De Trás-os-Montes… entre os melhores investigadores do mundo!

Nem sempre os “melhores do mundo” batem certo com as evocações do Presidente (que, ao que consta, está de malas feitas para o Qatar, onde espera aplaudir alguns dos que assim considera…).

Contudo, bem poderia evocar também estas duas jovens investigadoras transmontanas: Isabel Ferreira e Lillian Barros.

Bastar-lhes-ia a beleza que irradiam para serem notadas. Mas são notadas muito para além da sua beleza: acabam de ser declaradas, num dos mais prestigiados rankings mundiais da investigação científica (Clarivate Analytics), como fazendo parte dos cientistas mais citados do mundo, num universo de 6938 investigadores.

São transmontanas e vivem em Bragança. Os meus parabéns!

https://www.facebook.com/alexandre.parafita.escritor/


sábado, 15 de outubro de 2022

Conseguirá ele dormir descansado?

 

Em menos de quinze dias, assistimos a estes dois desfechos dramáticos:

Primeiro, a Prof.ª Josefa Marques, do concelho de Almeida, doente oncológica, de 51 anos, requereu, como sempre fizera em anos anteriores, a mobilidade por doença para trabalhar próximo do seu domicílio, mas este ano, com a mudança da legislação, acabou colocada em Oleiros, a 207 kms de casa. Morreu sem obter resposta ao seu apelo junto do Ministério da Educação.

Agora, a Prof.ª Fernanda Barros, de Chaves, com a mesma idade, que há três anos estava colocada no seu concelho com mobilidade por doença incapacitante (problemas hepáticos, insuficiência cardíaca, diabetes, obesidade mórbida, três enfartes nos últimos anos e três cateterismos), pediu para continuar no seu concelho, mas, perante a nova (e hedionda) lei do Ministério, teve de regressar à escola onde é efetiva, em Castelo de Paiva. Também acabou por morrer, esta semana, sem conseguir resposta ao seu apelo junto do Ministério da Educação.

Que país é este, afinal? E como pôde este Ministro da Educação produzir uma lei ardilosa e desumana que limita, aos requerentes de mobilidade por doença incapacitante, a colocação numa escola num raio de até 50kms em “linha reta”? Só quem não conhece (ou não quer conhecer) a realidade do interior deste país pode urdir uma legislação tão estranha.

Conseguirá o Ministro dormir descansado, perante estes trágicos desfechos?

A minha homenagem à memória destas duas professoras e a minha solidariedade com as lágrimas e a revolta dos seus milhares de colegas, familiares e amigos.

https://www.facebook.com/alexandre.parafita.escritor/


quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Recupere-se a autoridade e o prestígio dos professores!

 


Para refletir, especialmente, hoje, o Dia Mundial do Professor:

Acabe-se com a violência nas escolas e com a impunidade de alunos mal comportados e arruaceiros. Penalize-se criminal e exemplarmente encarregados de educação que agridem, intimidam e ameaçam professores. Acabe-se com a terrível burocracia que recai sobre os professores (até os processos relativos ao “cheque dentista” dos alunos estão sobre os seus ombros…), alivie-se o peso arrasador e absurdo da sua rotina profissional (turmas e horários sobrecarregados, testes, planos de aulas, planos de recuperação, aulas de apoio, reuniões sobre reuniões, resmas de atas, grelhas, relatórios...) que os obrigam a trabalhar de dia e de noite, madrugada fora. Acabe-se com as colocações a 100 e a 200 Kms de casa, que obrigam os professores a gastar quase metade do ordenado nas deslocações. Dêem-lhes condições para poderem também ter uma família.

E então sim, tal como antigamente, qualquer jovem alimentará o sonho de um dia poder vir a ser professor. As escolas tornar-se-ão num espaço onde apetece estar. O ensino superior encher-se-á de candidatos à docência, e jamais faltarão professores de qualidade nas escolas.

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

O drama e o sonho de ser professor

 

A professora Patrícia Ferreira viaja de Vila Real até Aljustrel (cumprindo uma rota complexa de 555 kms: Vila Real – Porto – Lisboa – Évora – Beja – Aljustrel) para continuar a alimentar o sonho de ser professora, como bem se narrou na Grande Reportagem da SIC Notícias.

O pouco que ganha fica-lhe nas viagens e no alojamento. Certamente, a única compensação que continua a permitir-lhe alimentar o sonho de ser professora estará na felicidade dos seus alunos ao receberem-na em cada nova semana e na ternura dos abraços do filho e marido que ansiosamente a esperam em cada regresso a casa.

Este é o drama de milhares de professores. Muitos outros optam por deslocar-se, diariamente, durante mais de 300 quilómetros para darem as suas aulas. Compensação monetária (como acontece em outras profissões com bem melhores remunerações), nenhuma. Deixam aí o pouco que ganham e o que gastam nem sequer o conseguem descontar no IRS.

Para cúmulo, o Ministério da Educação vomitou este ano a porcaria de uma lei que, sob a ardilosa justificação de ajudar os professores com doenças incapacitantes, lhes oferece a possibilidade de concorrerem a escolas num raio de até 50 kms em “linha reta”, o que obriga, nas estradas serpenteadas do interior do país, a deslocações de mais de hora e meia. Um professor nestas condições ainda irá ter de inventar tempo e meios para fazer os seus tratamentos médicos, seja de oncologia, hemodiálise e outros.

Enfim, como se vê, temos um Ministério da Educação nada amigo dos professores.

www.facebook.com/alexandre.parafita.escritor

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

PRÉMIO HONORÍFICO PROFESSOR DOUTOR ADRIANO MOREIRA

 

O que tenha feito pela região transmontana que me fez merecedor de tal distinção irá, certamente, comprometer-me ainda mais, inspirado que sou, na vida, no estudo e no trabalho, pelo exemplo singular do Prof. Adriano Moreira, que assinou, com o seu punho débil, este diploma.

A celebração do seu centenário, ontem no Parque das Nações, onde me desloquei para receber esta distinção, tornou-se um acontecimento nacional, marcante na redescoberta dos sentimentos mais nobres da Portugalidade. A figura deste transmontano, patriota e humanista, é hoje e será no futuro uma das grandes referências nesta velha Nação tão minguada de valores que se deseja as novas gerações respeitem e preservem.

www.facebook.com/alexandre.parafita.escritor/


sábado, 16 de julho de 2022

Os “drones” da terra queimada…

Se estes drones, em vez de “patrulharem” hoje a terra queimada, tivessem, há uns dias atrás, andado a patrulhar o território nas zonas mais críticas e propensas aos fogos, certamente o país não estaria hoje sob o estado depressivo em que está, mais triste, enlutado e mais empobrecido.

Porque não os usam os bombeiros, os sapadores florestais, as forças militares, a força área, as juntas de freguesia, as associações ecologistas, colocando-se em pontos estratégicos do território florestal?

Já aqui o disse e repito. Um drone pode percorrer uma distância até 35 quilómetros, o que em linha reta cobriria uma boa fatia do território. E assim, bastaria meia dúzia de drones, lançados e pilotados estrategicamente, uns no Marão e Alvão, outros no Montesinho, na Padrela, no Larouco e no Gerês, para permitirem, no norte do País, no espaço de minutos identificar a origem das ignições e avistar os próprios incendiários.

Cada vez me convenço mais que o País está a ser gerido por gente com pouca capacidade e sem visão calculista e prospetiva dos flagelos, e que assume as catástrofes como uma fatalidade. Até cancelam as viagens, pois já "sabem" que as catástrofes vêm aí. Assim, não vamos a lado nenhum.


segunda-feira, 11 de julho de 2022

Para que servem, afinal, os drones?

 

Imagem: SIC Notícias

Retirar alguns das praias (em especial os que andam por lá em mero voyerismo, vigiando os fios-dentais e os “bumbuns”…) e colocá-los a vigiar do céu as florestas, era o mínimo que se poderia esperar dos decisores mais inteligentes. 

Diz quem sabe que um drone pode percorrer uma distância até 35 quilómetros, o que em linha reta cobriria uma boa fatia do território transmontano. E assim meia dúzia de drones, lançados e pilotados estrategicamente, permitiriam, no espaço de minutos, identificar a origem de muitas ignições e avistar os próprios incendiários.

Ocorre este cândido exercício de sensatez a um simples leigo na matéria, quando, nestes dias, se assiste à destruição, nas zonas de Ribeira de Pena e Boticas, de uma das maiores manchas contínuas de pinheiro bravo da Península Ibérica, e há quem diga que ocorreram várias ignições em localizações diferentes. Portanto, estar-se-á à vista de mais uma das ações criminosas que nos empobrecem a olhos vistos, perante a placidez de um regime de gente mansa, sem ousadia, nem justiça, nem autoridade.


quarta-feira, 29 de junho de 2022

Onde ficam os 95 anos de história do Colégio da Boavista?

 


Para quem passa por estas bandas, em Vila Real, já reparou que na fachada do histórico Colégio da Boavista (Nossa Senhora da Boavista) está agora Colégio de João Paulo II. Não pergunto a ninguém por quê, nem me interessa.

Interessam-me sim os 95 anos de história, a completar dentro de alguns meses. Símbolo de rigor, exigência e prestígio, era uma referência no ensino em Portugal. Chegou a ser a escola mais bem classificada no interior do país em todos os rankings de qualidade.

Interessa-me a memória dos milhares e milhares de alunos, vivos e falecidos, que por lá passaram. E a emoção com que recordam o "seu" Colégio.

Interessa-me recordar a memória dos heróis sem nome que o salvaram quando os tempos eram cruéis. Como António Alves Miranda, falecido em 2013. Foi ele quem salvou o colégio da falência nos anos 70. Reergueu-o do zero, quando todos o abandonaram em vista da falta de lucros. É preciso não esquecer que nesses anos, quando muitos homens e mulheres emigravam para equilibrarem as suas vidas, os filhos ficavam, confiadamente, aos cuidados deste Colégio como internos. Porém o dinheiro era escasso. Não chegava para alimentar tantas bocas e pagar a professores. Esteve, pois, para fechar portas, não fora o sentido cristão, altruísta e generoso do seu dedicado tesoureiro, que, receando pelo futuro de tantos adolescentes, desamparados e sem as famílias perto, assumiu ele próprio as funções de professor, contínuo e administrador… sem ganhar um tostão! Visitou um a um todos os credores, assumiu com eles compromissos pessoais, pediu todos os auxílios possíveis à comunidade local, e só assim conseguiu reerguer das ruínas a instituição.

Trabalhou quase até ao fim dos seus dias, e de forma graciosa, continuando responsável da contabilidade do Colégio da Boavista, mas também do Lar de Nossa Senhora das Dores, e ainda grande dinamizador dos coros da Sé e da Casa do Professor, enquanto frequentava a Escola Real de Música.

Saber honrar a memória dos Homens (com H grande) que constroem caminhos de luz, de generosidade e progresso é também um dom, mas que, infelizmente, nem a todos serve. O município de Vila Real já há muito deveria ter honrado a memória deste Homem.

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Camões, visionário

 


Ao introduzir, no Canto IV dos Lusíadas, a personagem do Velho do Restelo escarmentando a partida dos navegadores para a epopeia dos Descobrimentos sob o argumento de que seria um desastre para a nação, Camões revelou uma visão profética intemporal, simbolicamente traduzida no pessimismo agourento daqueles que, no país, tudo fazem para desengrandecer desafios mais ousados e corajosos.

Veja-se o caso da Regionalização. Após a revolução de abril e, pelo menos, até 1996, o país estava determinado a avançar com a Regionalização, que, por isso, fora inscrita na Constituição de 1976 e confirmada pela Lei nº 56/91 de 13 de agosto. Seriam então criadas oito regiões administrativas, uma delas a região de Trás-os-Montes e Alto Douro. Porém, nada veio a cumprir-se, por força de desentendimentos políticos gerados posteriormente, em especial pelas posições antirregionalistas de franjas expressivas do PSD e CDS. Daí que, alterada a Constituição em 1997, ficasse a Regionalização dependente de um referendo popular, o qual, realizado no ano seguinte e precedido de uma poderosa campanha mediática que problematizou os ganhos previsíveis com a Regionalização, viria a pronunciar-se contra.

Entretanto, os ganhos esperados com a não-Regionalização, ao contrário do que fora apregoado, viriam a tornar-se o maior desastre da História. O Estado centralista reforçou-se e o interior empobreceu e esvaziou. O país está a ficar oco. Portugal perdeu.

Não admira, por isso, que, cinco anos após o referendo, numa sondagem efetuada no âmbito do Programa Prós e Contras da RTP, 46% dos portugueses, contra 22%, assumisse ter errado quando disse não à Regionalização. Vale, pois, a pena trazê-la para a ordem do dia, mas agora com um debate franco, leal e sem o pessimismo manipulador do passado.

in JORNAL DE NOTÍCIAS, 22-6-2022

domingo, 6 de março de 2022

O que vale hoje um aperto de mão?

 


Ainda sou do tempo em que um aperto de mão era o processo mais nobre de fazer um acordo. Um símbolo de nobreza respeitado já entre os cavaleiros medievais, que, ao estenderem a mão direita, comprometiam-se a não a usarem para desembainhar a espada. Pele com pele, palma desarmada sobre palma desarmada, representava a dignidade maior de homens honrados e bem-intencionados nos seus propósitos.

O que vemos hoje, nos ridículos apertos de mão (concomitantemente com o bombardear imparável, que destrói cidades, não pouca inocentes e mata crianças), é o cúmulo da hipocrisia.

(ap)

in Diário de Trás-os-Montes