terça-feira, 28 de abril de 2015

Com o Prof. Arnaldo Saraiva, é sempre um dia ganho


Miguel Torga, o poeta marginalizado, 20 anos após a sua morte, não podia ter melhor defensor no Encontro de Escritores Transmontanos. O Prof. Arnaldo Saraiva, catedrático emérito, cronista, poeta, ensaísta e linguista, um grande amigo e companheiro que há muito adotei como mestre, foi o convidado de honra deste Encontro. Falou de Miguel Torga no Brasil, do pequeno Adolfo que emigrou para fugir à pobreza da tua terra e regressou a ela para mitigar a saudade que o acompanhou. Uma experiência traumática que, paradoxalmente, lhe inspirou uma das suas obras mais belas: A Criação do Mundo. Foi mais um dia ganho o voltar a ouvir o Prof. Arnaldo Saraiva. Um poeta, que falou de poesia, com poesia, de um outro poeta.

 

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Desmemoriar para melhor escravizar


É deveras inquietante para a humanidade o apelo que a diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova, teve de lançar aos jovens, desde a Universidade de Bagdad, para que usem todos os meios ao seu alcance, especialmente as redes sociais, no combate à campanha de "limpeza cultural" a que está sendo sujeita a República do Iémen, com as ações orquestradas de destruição do seu património cultural pelos grupos extremistas do Estado Islâmico. O património do Iémen é único. Grande parte está classificada como Património Mundial. Nela se mostram séculos de reflexão sobre o Islão. A destruição do museu da cidade setentrional de Mossul e vários sítios arqueológicos, como os de Nimrud e Hatra, bem como a difusão pelos jiadistas de um vídeo que mostra a destruição de esculturas pré-islâmicas de valor inestimável, estão ainda vivas na memória recente.
 
Um apelo desta natureza aos jovens, implicando-os num combate ativo pela defesa do património, acentua também a noção de que o património cultural não é um bem exclusivo de uma geração. A nenhuma geração cabe o direito de fazer dele o que bem entende, nem tão pouco de sujeitá-lo aos seus caprichos civilizacionais, pois trata-se de um legado da cosmogonia de um povo, ou seja, a herança da sua memória coletiva, havendo que acautelar o direito que a ela também têm as gerações futuras. E tudo porque a memória tem também um papel normativo, especialmente quando, representada no património comum (material ou imaterial), lhe cabe inserir os indivíduos numa cadeia de filiação identitária.
 
Daí que a campanha de "limpeza cultural" a que se assiste no Iémen deva alertar-nos para o maquiavelismo de uma estratégia (tratando-se de uma estratégia e não de um sórdido vandalismo apenas) apostada numa "queima de arquivo" da memória de um povo. Aliás, nem sequer é original esta estratégia e conhecem-se bem os efeitos de outras que a história dificilmente apaga. Bem sabemos como a cristandade se empenhou em destruir, na Península Ibérica, os documentos árabes do séc. VIII, como forma de eliminar a verdade da memória muçulmana, ou impedir, posteriormente, a sua reconstituição. De facto, para melhor dominar um povo, escravizá-lo mesmo, há que "sugar-lhe" a memória, e, desse modo, eliminar-lhe a identidade. Chama-se a isso desmemoriação.
(AP)
in Jornal de Notícias, 10-4-2015
 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

A lenda de um rei mouro metido numa pipa de pregos


Vale a pena visitar, em Rebordãos, concelho de Bragança, estas ruínas de um antigo castelo, que a lenda reconhece como aquartelamento de um diabólico rei mouro, que era o cúmulo da tirania]

Conta a lenda que no castelo de Rebordãos, há muitos e muitos anos, viveu um rei mouro que subjugava pela força toda a população das redondezas. Quanto às moças, antes de serem possuídas por qualquer homem, eram obrigadas a frequentar o seu harém e satisfazer os seus prazeres.

Um dia, uma jovem cristã, irmã do famoso Conde de Ariães, tendo-se recusado a seguir este destino, foi raptada pelo rei mouro e levada para o castelo. Aí, o tirano tentou fazê-la ceder aos seus desejos, e, como ela continuasse a recusá-lo, o rei mandou buscar uma pipa e cravejou-a de pregos de fora para dentro, a fim de meter a moça lá dentro e pô-la a rolar pela encosta do morro abaixo.

O Conde de Ariães, ao saber do rapto, conseguiu chegar ao alto do morro, no momento em que o rei se preparava para lançar a pipa no despenhadeiro. Travou uma luta com o tirano, venceu-o, e, por castigo, meteu-o a ele dentro da pipa, mandando-a pela encosta abaixo. E assim o povo se libertou, de vez, do jugo dos mouros.

(Bibl. PARAFITA, A. – A Mitologia dos Mouros, Gailivro, 1ª edição: 2006)
 

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Que nenhuma criança cresça sem a alegria dos livros!


Hoje, 2 de abril, é o Dia Internacional do Livro Infantil. Mais um dia para se celebrar o livro. Nas mãos de uma criança, o livro é sempre um raio de luz que reacende a esperança num amanhã melhor. A leitura aproxima pessoas, encurta distâncias, rasga fronteiras, abre horizontes, desvenda caminhos de felicidade. Ler um livro também é brincar. Quando lê, a criança entra em todos os jogos. E com uma vantagem: acaba sempre por ganhar. Por isso, com livros nas mãos das crianças, o ambiente é sempre de festa, nos rostos moram sempre sorrisos e alegria. Que os livros sejam, pois, para elas, os bens mais preciosos, companheiros de todos os instantes. E felizes os mais pequeninos, que ainda podem construir reinos de faz de conta com a magia das histórias! (ap)