Por
estes dias, Portugal e Espanha viram ser integradas, pela UNESCO, na lista do
Património Mundial, as Boas Práticas de Salvaguarda do Património Cultural
Imaterial Galego-Português, aprovando uma candidatura apresentada pelos dois
países e promovida pela ONG “Ponte…nas Ondas”. Durou esta luta 18 anos. A
primeira candidatura foi apresentada em 2004. Professores, etnólogos e
antropólogos galegos e portugueses nunca desistiram de pugnar
pelo máximo reconhecimento, junto da UNESCO, de um património comum a
ambos os lados da fronteira, resultado do processo evolutivo que partiu de uma
língua e cultura comuns desde a Idade Média.
Aprovada, finalmente, esta candidatura, há que ter agora presente que, também o Governo português, fica comprometido com as “Boas Práticas” que mereceram o supremo galardão mundial. Não basta ter o “selo” UNESCO e depois ignorar o trabalho e os projetos de quem procura no terreno garantir a salvaguarda deste património cada vez mais rodeado de ameaças por todos os lados. Incorporar nos currículos escolares o conhecimento, valorização e estima pelo PCI, implementar um plano de formação de professores neste domínio, incentivar iniciativas em centros educativos e associações culturais, é o mínimo que pode requerer-se após esta aprovação pela UNESCO.
O Ministério da Cultura acaba de excluir dos apoios do Estado para os próximos quatro anos a companhia de teatro Filandorra, que é, seguramente, uma das que, no Norte interior, melhor tem consagrado e divulgado nas escolas as franjas mais expressivas do nosso Património Cultural Imaterial. Se é desta forma que o Governo português se dispõe a apoiar as “Boas Práticas”, então bem pode a UNESCO esperar sentada pelos resultados da sua decisão.
In JORNAL DE NOTÍCIAS, 13-12-2022