domingo, 27 de agosto de 2023

A antecâmara de uma parcela do paraíso

 

(foto de João Carrola)

É assim, ao anoitecer, a entrada no campus da UTAD. A magia do silêncio reconforta o olhar e afaga o desejo indomável de entrar e descobrir. “Entre quem é”, diria Torga.

Amanhã mesmo, e até 4ª feira, cerca de milhar e meio de novos alunos, que ganharam o direito e o privilégio de entrar nesta Universidade, irão descobrir esta parcela de paraíso, que em tempos apelidei de “oásis de biodiversidade”. Um oásis de vida e de aprendizagem, singular em Portugal e no mundo, que mantém um ecossistema de organismos vivos, onde, entre as nuances de verde, há espécies vegetais que contam histórias dos quatro cantos do mundo, enquanto servem de poleiros naturais a toda a sorte de passarada cantante. 

A harmonia deste ecossistema tanto nos sugere o “hino à natureza” de Torga como “as quatro estações” de Vivaldi. E da mesma forma que os instrumentos musicais se harmonizam para formarem uma melodia sublime, também aqui os organismos vivos se conjugam no equilíbrio do ecossistema para que a perfeição do eco-campus da UTAD seja igualmente sublime.

A oportunidade de estudar nesta Universidade é, pois, um desafio tão estimulante como enriquecedor. Os meus parabéns aos novos caloiros. 

www.facebook.com/alexandre.parafita.escritor


quinta-feira, 17 de agosto de 2023

UTAD: 50 anos de história

 

Completa-se este mês meio século. Meio século de um percurso combativo, desde os alvores dos anos 70 do século passado, na defesa dos interesses de uma região então votada ao mais completo marasmo.

Impõe-se, por isso, o dever de recordar o papel dos grandes pioneiros da instituição e a sua luta efetiva pela descentralização (Veiga Simão, Tomás Espírito Santo, Cardoso Simões, António Réfega, Valente de Oliveira, Fernando Real e Joaquim Lima Pereira, entre muitos outros), assim como a intervenção enérgica dos órgãos de imprensa de então e “forças vivas” locais, que, mesmo no período do Estado Novo, não se coibiram de afrontar o regime, erguendo uma voz coletiva na reivindicação de direitos até então nunca atendidos.

Isto num tempo em que na Assembleia Nacional havia quem objetasse que, dar “a qualquer cidadão o direito de ser doutor, mais não é do que entender que qualquer burro tem o direito de ser cavalo”.

Para os vindouros fica a convicção de que o que se conseguiu foi sempre ao poder de muita luta. Nada caiu do céu em Trás-os-Montes. A história da UTAD demonstra-o bem. Em 1970, Veiga Simão lançou o “embrião”. Depois, até ao “Politécnico” (IPVR), criado em agosto de 1973, foi uma luta de bastidores e de “lobbies” acionados na capital por Tomás Espírito Santo. Porém, sem cursos aprovados nem instalações, houve que voltar ao combate para o pôr a funcionar, o que só aconteceu em dezembro de 1975, com todas as decisões “arrancadas a ferros”. Em 1979, ao poder de greves e manifestações, Lisboa lá se rendeu, elevando o “Politécnico” a Instituto Universitário (IUTAD), então a única forma de atribuir o grau de licenciatura aos seus alunos.

Mas a região queria mais. Sobretudo mais cursos. Por isso, novos combates houve que travar em Lisboa, que continuava a olhar de soslaio para a região, assim nascendo, finalmente, em março de 1986, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

in Jornal de Notícias 27-8-2023


sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Os pioneiros da UTAD

 


Lembrá-los hoje, meio século depois, é um dever cívico. O dever de quem sabe honrar a memória.

Veiga Simão, quando decidiu lançar o ensino superior em cidades como Vila Real, ouviu na Assembleia Nacional (hoje Assembleia da República) um qualquer animal, travestido de deputado da Nação, declarar: “Dar a qualquer cidadão o direito de ser doutor, mais não é do que entender que qualquer burro tem o direito de ser cavalo”.

Mas não se intimidou o jovem Ministro. E o Estado Novo tremeu. Nasceu assim (a 11 de março de 1973) o Instituto Politécnico de Vila Real, que logo evoluiu para Instituto Universitário e depois para Universidade. Aqui recordo os homens do leme que se seguiram (os já falecidos): o Prof. António Réfega, o Prof. Joaquim Lima Pereira, o Prof. Fernando Real (que me “desviou” do jornalismo para a UTAD e depois, enquanto Ministro do Ambiente, ainda me veio buscar para Assessor de Imprensa) e por fim o Prof. Torres-Pereira.

 E para os vindouros, fique a lembrança de que nada caiu do céu em Trás-os-Montes. Todos os avanços foram arrancados a ferros à custa de muitas batalhas. O Marão erguia-se como um obstáculo, mas havia outros ainda mais difíceis de transpor.

www.facebook.com/alexandre.parafita.escritor