Em contraste com os carnavais mediáticos das grandes urbes mundiais, muitas aldeias e vilas transmontanas mantêm as suas tradições do Entrudo, fiéis aos rituais do ciclo de Inverno, de raízes medievais, e que hoje são o retrato vivo de uma civilização rural que teima em sobreviver na região. Desfiles diabólicos de “caretos”, “matrafonas” e “facanitos”, leituras de “testamentos” (ou “papeladas”), “julgamentos públicos” e “pulhas casamenteiras” são o que perdura de mais genuíno das tradições do Entrudo em Trás-os-Montes.
A tradição dos “caretos”, tal como ocorre em Podence, Macedo de Cavaleiros, é, de todas a mais activa. Os rapazes vestidos com os seus fatos de franjas de cores garridas, máscaras de lata e chocalhos à cintura, percorrem num frenesim “eléctrico” todos os cantos da aldeia, entram e saem pelas janelas das casas e alpendres, trepam aos telhados, em busca das raparigas solteiras que arrastam para a rua ensaiando com elas rituais eróticos. Estas, caso não queiram entrar neste “jogo” só têm uma solução: vestem-se de “matrafonas” (mascaradas como eles) e saem também para a rua, onde estarão imunes às investidas dos moços. O cortejo completa-se com os “facanitos”, ou seja os mais pequerruchos da aldeia que, mascarados de trasgos ou mafarricos, acompanham os demais, cumprindo, também eles, o seu próprio ritual de iniciação e garantindo, ao mesmo tempo, a continuidade da tradição.
Não menos singular é o mito/rito do Entrudo em Santulhão, Vimioso, conhecido como “julgamento do Entrudo”, onde se posicionam o “Anunciador”, o “Entrudo” acompanhado pela mulher e filhos, depois os “Advogados” de acusação e defesa e, por fim o “Juiz” exibindo o “livro das leis”. Esta alegorização do Entrudo e do seu clã familiar visa responsabilizá-los pelas desgraças do Inverno, especialmente os males agrários, pelo que o ritual do julgamento representa, simultaneamente, o seu esconjuro e a purificação da comunidade, que assim entrará, com outro ânimo, num novo ciclo produtivo. Daí que, lavrada a sentença pelo juiz, os bonecos de palha, simbolizando as figuras a esconjurar, sejam queimados na praça pública perante a azáfama do povo.
A tradição dos “caretos”, tal como ocorre em Podence, Macedo de Cavaleiros, é, de todas a mais activa. Os rapazes vestidos com os seus fatos de franjas de cores garridas, máscaras de lata e chocalhos à cintura, percorrem num frenesim “eléctrico” todos os cantos da aldeia, entram e saem pelas janelas das casas e alpendres, trepam aos telhados, em busca das raparigas solteiras que arrastam para a rua ensaiando com elas rituais eróticos. Estas, caso não queiram entrar neste “jogo” só têm uma solução: vestem-se de “matrafonas” (mascaradas como eles) e saem também para a rua, onde estarão imunes às investidas dos moços. O cortejo completa-se com os “facanitos”, ou seja os mais pequerruchos da aldeia que, mascarados de trasgos ou mafarricos, acompanham os demais, cumprindo, também eles, o seu próprio ritual de iniciação e garantindo, ao mesmo tempo, a continuidade da tradição.
Não menos singular é o mito/rito do Entrudo em Santulhão, Vimioso, conhecido como “julgamento do Entrudo”, onde se posicionam o “Anunciador”, o “Entrudo” acompanhado pela mulher e filhos, depois os “Advogados” de acusação e defesa e, por fim o “Juiz” exibindo o “livro das leis”. Esta alegorização do Entrudo e do seu clã familiar visa responsabilizá-los pelas desgraças do Inverno, especialmente os males agrários, pelo que o ritual do julgamento representa, simultaneamente, o seu esconjuro e a purificação da comunidade, que assim entrará, com outro ânimo, num novo ciclo produtivo. Daí que, lavrada a sentença pelo juiz, os bonecos de palha, simbolizando as figuras a esconjurar, sejam queimados na praça pública perante a azáfama do povo.
É de assinalar que estas manifestações, com a mesma expressão ritual ou expressões afins, são comuns a outras zonas transmontano-durienses, como acontece com os caretos de Vila Boa de Ousilhão, os Caretos aos Pares (compadres e comadres) de Lazarim, os Diabos, a Morte e a Censura em Bragança, a Morte e os Diabos de Vinhais, as Pulhas Casamenteiras em Mogadouro, os Testamentos ou Papeladas em Espinhoso, etc.
Lamentavelmente, o Ministério da Cultura inviabilizou a candidatura deste Património Imaterial à lista da UNESCO, preferindo concentrar os seus esforços na candidatura do fado, contra as próprias normas da UNESCO, pois o fado está muito longe de ser um bem cultural cuja viabilidade corre perigo.
Lamentavelmente, o Ministério da Cultura inviabilizou a candidatura deste Património Imaterial à lista da UNESCO, preferindo concentrar os seus esforços na candidatura do fado, contra as próprias normas da UNESCO, pois o fado está muito longe de ser um bem cultural cuja viabilidade corre perigo.
Alexandre Parafita