“Quem
não aprende a gostar de ler aos dois, três, quatro, cinco, seis anos, mais
dificilmente adere a esse prazer pelos oito, dez, doze, catorze anos”. Assim
escreveu Marcelo Rebelo de Sousa, em 2006, enquanto agente e divulgador
cultural, no prefácio de uma obra de reflexão sobre a nova Literatura para a
Infância.
Na
mesma sintonia, Fernando Azevedo, diretor do Programa de Doutoramento em
Estudos da Criança da Universidade do Minho, defendeu que, “desde uma idade
precoce, de preferência ainda antes do nascimento, a criança seja familiarizada
com hábitos e práticas de leitura”, reconhecendo, assim, o papel primordial da
família, mas também a convicção de que as crianças, no seu percurso de vida,
irão manifestar maior motivação para a leitura se reconhecerem como socialmente
relevante essa atividade, e esse reconhecimento ganha corpo quando observam os
pais a ler e a escrever, isto é, a desenvolver práticas de literacia.
No
início dos anos letivos, no ensino superior, sempre me deparei com jovens que
são, à partida, bons leitores, e por isso cultos, bem-falantes, ágeis
intelectualmente, e outros que o não são. Sempre os interroguei sobre os seus
percursos, as influências recebidas, e constato que os mais cultos, mais inteligentes,
mais capazes, tiveram na infância, no seio da família e da escola, um convívio
marcante com a literatura infantil. Na família, ouvindo canções de berço,
lengalengas, histórias ao deitar. No jardim-de-infância e na escola, com a
magia do livro, as visitas à biblioteca escolar, as horas do conto, os
encontros com escritores…
Dedico
estas palavras aos professores e, em especial, aos bibliotecários escolares,
que com o seu labor e criatividade transformam a escola num verdadeiro reino de
afetos. Começar a ser grande com os livros é o desafio. Uma parte de nós
constrói-se com o que lemos. A outra com as emoções que cultivamos. Dentro e
fora de nós.
In Jornal de Notícias, 10-10-2013